Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão

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No livro Missão Transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, David J. Bosch aborda sobre a crise contemporânea de missões iniciando seus argumentos sobre um conjunto de sentidos de enviar missionários, ele destaca:
Atividades executadas
Território especificado
Área geográfica de atuação
Agência que envia
Campo de missão
Apoio de um igreja
Disfunção da fé cristã.
Em sua definição de missão, ela se define em propagar a fé expandindo o reino de Deus, objetivando a conversão de pessoas e fundar novas igrejas.
Até o século 16, o termo missão era usado para se referir a doutrina da Trindade, os jesuítas foram os que primeiro utilizaram o termo para difundir a fé cristã para pessoas que não eram da membresia da Igreja Católica. O termo “missão” pressupõe alguém que envia, dizia-se que quem enviava realmente era Deus, porém na prática a autoridade era conferida à igreja ou agência missionária, essa interpretação foi gradativamente modificada ao longo do século 20.
A missão está em total crise atualmente, sendo atacada tanto de dentro quanto de fora dessa visão.
Missão sempre será na teologia um ponto de reflexão expositiva da fé cristã como expressão.
Kraemer diz que “a igreja sempre necessitou do fracasso e sofrimento para tornar-se plenamente viva para sua real natureza e missão”. Defrontar-se com a crise é encontrar a possibilidade de ser verdadeiramente a igreja. A crise não é o fim da oportunidade, mas na realidade apenas seu início.
O mundo cristão como um todo, mas especialmente no ocidente, tem enfrentado crises nas quais de tempos em tempos ocorrem mudanças de paradigmas. Essas crises são manifestas com o avanço da ciência e tecnologia, da secularização, descristianização, mundo plurarista em termos religiosos, onde cristãos convivem com adeptos de outras religiões e inclusive essas pessoas são muitas vezes missionários mais ativos que muitos cristãos, sentimentos de  culpa por subjugar e explorar outros povos, mundo dividido entre ricos e pobres, gerando grandes revoltas e igrejas jovens valorizando demasiadamente sua autonomia, além da teologia ocidental ser muito suspeita para o resto do mundo.
O que tem se desenvolvido em círculos teológicos e missionários durante as últimas décadas é resultado de uma fundamental mudança de paradigmas, não apenas na missão ou na teologia, mas na experiência e no pensamento do mundo inteiro. Há tempos ocorrem mudanças de paradigmas, essa não é a primeira que o mundo vivenciou, cada uma delas constituiu o fim de um mundo e nascimento de um outro.
Para Bosch a crise contemporânea de missão se manifesta em três áreas:
O fundamento
Os motivos e a meta
A natureza da missão.
Warneck distingue missão em dois fundamentos, um sobrenatural e outro natural, onde no primeiro a missão está fundamentada na Escritura e na natureza monoteísta da fé cristã, já no fundamento natural, as bases são:
Caráter absoluto e superioridade da religião cristã
Aceitabilidade e adaptalidade do cristianismo para todos os povos e condições
Realizações superiores da missão cristã nos campos de missão
E por fim o fato do cristianismo se mostrar tanto no passado quanto no presente, ser mais forte do que outras religiões.
Os motivos missionários e a meta da missão segundo identificou Verkuyl os “motivos impuros”:
Motivo imperialista;
Motivo cultural;
Motivo romântico;
Motivo do colonialismo eclesiástico.
Quatro outros motivos missionários:
O motivo da conversão;
Motivo escatológico;
Motivo da plantação ou instalação da igreja;
Motivo filantrópico.
O motivo imperialista é porque o cristão geralmente quer se impor para a outra pessoa. O motivo culturalé por que o cristianismo geralmente fere a cultura de certa comunidade, impondo custe o que custar a “cultura correta”. O motivo romântico, pois muitos veem a missão apenas como algo fantasioso, esquecendo-se da responsabilidade que cada um tem. O motivo do colonialismo é porque o cristianismo vai criando pequenas colônias em certas regiões, fechando-se ao seu redor, ficando numa “incubadora”. O motivo da conversão, vemos que alguns cristãos apenas querem impor a conversão ao indivíduo, esquecendo-se da sua pessoa. O motivo escatológico são os cristãos que apenas ameaçam os outros com base na escatologia, esquecendo-se de viver o presente, e esquecendo-se de anunciar o evangelho com amor. O motivo da instalação da igreja são os cristãos que visam apenas em implantar igrejas, se importando com números, e não com a consistência. O motivo filantrópico é o cristão que não mais se importam com a humanidade em si, “olhando somente para o seu umbigo”.
A crise é o ponto em que o perigo e a oportunidade se encontram, onde não podemos nos deixar desviar dela. Não podemos nos focar apenas nas oportunidades e não prestar atenção nas armadilhas, nem nos focar apenas nos perigos e desistir. Não devemos nos apegar ao consolo que práticas antigas nos dão e nem abraçar valores do mundo contemporâneo, necessitamos de uma nova visão para sair do atual impasse rumo a uma espécie diferente de envolvimento missionário. Kraemer diz que não devemos ver esse impasse como o fim da missão, mas sim perceber o mais cedo possível essa crise e executar novas tarefas, mais exigentes e menos românticas


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